Corpo Memória: Um fluir criativo num suporte providencial.
Na ânsia de tirar proveito da parição, o ato criativo deixou vingar tudo que já estava nascido, daí para a multiplicação da obra foi uma questão de irradiação da sensibilidade diante das formas, das cores, das linhas, das texturas e dos traços que, unidos à poética contemporânea, permitiu que tudo pudesse acontecer.
E, num conjunto de obras tão presente, tão atual, o descaso não teve espaço nem para as últimas folhas rasgadas. Tudo está ai para contar a obra pintada, fotografada, digitalizada xilografada, impressa e transformada, sem desaprumar-se das linhas e das imagens. No êxtase criativo, o prazer maior era não somente pintar, mas também rasgar, recortar e colar papéis que deveriam ser descartados, fazer parte do lixo urbano, contribuindo para a poluição da natureza. E nesta compulsão criativa, abandonar a tela e eleger somente o papel como suporte, foi uma solução mais acertada para o momento, estando assim consciente que o trabalho ora desenvolvido, não somente tem um cunho econômico, mas também uma política em relação ao meio ambiente.
Miriam Belo
Miriam Bello
É uma artista com o pé Modernismo, tanto pela cor quanto pela composição. Sua obra brota de uma incrível amalgamação de papeis do lixo cotidiano, herança do papiêr collé,de Bráque, Picasso e Jean Arp. No entanto, há certo ineditismo na apresentação final que alcança o fazer contemporâneo, de tal forma que , muitas vezes, os elementos da composição invadem o espaço que seria reservado á escultura,tal como nos trabalhos do artista americano Roberto Rauchemberg.
Sua obra é de quem tem conhecimentos da Historia da Arte de nosso tempo.
Há um imenso desperdício de papel por todos os lados que vem interferindo no meio ambiente. No entanto, Mirian os recolhe sem nenhum preconceito, apropriando-se dessa matéria/pictórica, cortando, rasgando, aglomerando, colando, superpondo, tirando partido de todo jeito, surpreendentemente. Depois de jogar e brincar com esse rico material, criando obras que lembram as estampas de Gustav Klimt. No meio de suas coloridíssimas composições, que nos deixa sem fôlego, surgem figuras quase ingênuas, como as da arte africana, que parecem dialogar com “florestas” cromáticas em plena eternas primavera, cheia de flores sonhadas.
Graça Ramos¹
Primavera,
Salvador,06/10/2010
¹Doutora
Mestra em arte e educação Pensylvania State Iniversity –USA.1980
Professora Titular do Mestrado
Artista Plástica
Graça.ramos@terra.com.br-http://www.gracaramos.blogspot.com
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