sábado, 5 de junho de 2010

Amarelo Manteigado

Você já teve um vestido azul celeste cor de manteiga? Não? Também não. Mas, toda vez que eu perguntava á minha mãe: que roupa vou vestir? A resposta era: “Aquela azul celeste cor de manteiga”. Eu ficava a imaginar como seria um vestido nesses tons. Na mente vinha uma cor de cada vez, e depois eu matizava tanto que não dava em nada. Claro! O vestido era inexistente. Todavia, a vontade de ter mais uma peça de roupa era real, porque as que possuía eram contadas nos dedos e ainda sobravam dedos.

Uma fantasia e uma esperança estavam juntas na minha pergunta. Mesmo quando a resposta vinha acompanhada de ironia e desilusão, não me intimidava. Sabia que o tipo de resposta era um meio para que eu saísse da ilusão, acordar, sair sem cor nova (quero dizer, sem roupa nova) com cores firmes, pois as que eu possuía já estavam desbotadas. Decepção? Não! Apenas eu era sonhadora como toda criança quando está saindo da infância e entrando na pré-adolescência.

Sempre meu forte foi sonhar. Guardo comigo a lembrança da infância, a qual podiam me vestir muito bem. E quando isso não mais me acontecia, eu sonhava... Tudo que eu queria ter de volta era um tempo mais feliz, com cores firmes, mais cheio de listas, florais, babados, sianinhas vermelhas - de seda era melhor para não manchar - víeis azul, melindrosas, mais franzidos, menos franzidos, pregoados, bordados, aplicações em tons laranja sobre campo branco, somente isso, nada mais!

Ahh...também tem meus sapatos. Mesmo no dia-a-dia não gostava de usar tamancos, nem na chuva! Não sei por que naquela cidade tinham o habito de vender tamancos na feira? Todos iguais. “Rosto” de couro marrom e fechado, solado de madeira em tons claros. Achava-os feios e sem delicadeza para os meus pés, e o menos delicado era o som que emitia quando andava. Não me atraiam. Era o inicio da decadência se anunciando pelos pés.

Vivi um bom tempo desiludida com vestes descoloridas. Será que hoje sei o que vestir? Que ironia! Realização ou exagero? Será que a mãe natureza está de olho em mim? Consumo faz mal pro bolso e para o planeta. É bom de vez enquanto se dá um basta! Há épocas em que por algum motivo se vive a reflexão da escassez, atualmente vive-se o reflexo dos excessos.

Na vida nem tudo é azul, nem no céu, pois no por do sol seus tons laranja, rosas e até amanteigados fazem parte do momento. Contudo, no dia seguinte, quando o sol brilha a gente quer ver muita luz, anil e algodão espalhado lá em cima.

Um comentário:

  1. Ao ler seu texto fiz uma viagem ao tempo... fui lá na minha infancia e recordei a sua fala me contando sobre a história do vestido. Fico mto emocionada, pois vc e minha vó são figuras marcantes em minha vida!
    Bj e tdo de booom,
    Catarina Lopes

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